Vivências
A maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a dor do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana. A maior solidão é a da mulher encerrada em si mesma, no absoluto de si mesma...

03 Maio 2010

Proponho estas linhas a todos os que, neste momento ou noutros momentos da vida, se sentem ninguém... e a todos os que querem sentir-se alguém, aos olhos da Pessoa certa.

Diário de ninguém, no passado, algures

“Não morro de amores por mim. Sinto-me ninguém com nome de gente. Olho para o meu rosto no espelho e não me importo comigo.

Olho para a alma no reflexo dos meus silêncios e descubro as feridas que acarinhei pelo tempo. As nódoas que deixei cair no pano, os medos que arrumei no sótão, o cheiro a miséria que invade os meus dias pelo facto de ter deixado de acreditar que há vida para além.

Os temores que me perseguem estão bem escondidos. Não os quero enfrentar. Acho-me um caso perdido.

Limitei-me a enfrentar o passado como uma herança, uma sina, um destino que não posso deitar fora.

Não tenho forças e descubro-me inútil na minha oração.

O Pai ama-me, dizem. Não sei. Pensei viver para todos e morrer para mim, mas desgastei-me.

Dei as mãos. Deram-me pedras.

Dei o tempo. Deram-me cargas.

Dei-me. Pisaram-me.

Tenho todos mas sou ninguém. Rejeito pensar em mim.

Rejeito cuidar da coisa mais importante que o Pai me deu: a minha vida.

Projecto-me nas luzes, nas máscaras, nas personagens que os outros admiram e urgem em bajular.

Desmorono-me nos braços daqueles que ainda me escutam, ainda lutam por mim.

Tudo o que o Pai tem para mim não tem um prazo, mas sinto que já perdeu a validade.

Amarrei-me na sombra. Desfiz o meu mundo. Espantei a vida. Deixei de acreditar. Descobri que não conheço esse a quem chamo Pai.

Só O vejo como amoroso às vezes. A maioria do tempo olho para o quadro acusador que me pintaram ao logo da vida e permaneço em desilusões próprias por não conseguir agradar-Lhe.

Chego a magicar que todos os meus medos são-Lhe incompreensíveis

“Um dia alguém me espantou com um elogio longe de ser imaginado pelas mentes brilhantes de intelectuais, de pensadores, de teólogos ou mestres.

Uma frase apenas. Nunca vi beleza nenhuma em mim.

De repente alguém teve a coragem de balbuciar que eu, ninguém, tinha alguma coisa que não via na minha miopia.

Foi um momento inesperado, que iniciou um processo.

Eu, ninguém, comecei a tornar-me alguma coisa, e depois, alguém. E um processo nunca é 100% indolor, fácil, certeiro, agradável, mas quando sabemos que somos amados pela pessoa mais amorosa do Universo, até quando batemos com o rosto no chão, podemos levantar-nos e continuar.

Mesmo que intranquilos e duvidosos, somos filhos.

Os meus fantasmas vêm do sótão para me assustar quando os desaires da vida acontecem sem previsão.

Nessas alturas, volto a crer que sou ninguém, mas aprendi a correr para os braços do meu Pai e perceber que Ele faz de mim alguém.

Por vezes os outros mudam as lentes da nossa mente, abanam o mar da nossa inércia, suspiram gritos por socorro para lutarmos por nós próprios.

Nas pequenas coisas, nas grandes tempestades.

Quando nos aceitamos como o Pai nos aceita, começamos a investir naquilo que o Pai também investe: em nós.

A vida tem de tudo para me fazer ninguém, mas muito para viver como alguém, alguém que é objecto do amor do Pai.

” Para o Pai não há “ninguém”, há sempre “alguém”. E eu sei disso.

publicado por RosaOliveira às 13:57

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